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domingo, 18 de março de 2012

A utopia da simplicidade: o bibliotecário e a biblioteca escolar

Um dos desejos, uma das metas dos utópicos é a erradicação do analfabetismo do nosso meio social. Um dos sonhos dos bibliotecários utópicos é que a biblioteca tenha papel ativo na condução desta tarefa. Ou como está lá numa citação em um livro do grande Bibliotecário Edson Nery: “as bibliotecas não assumiram um visão abrangente de sua tarefa, a qual deveria incluir um papel de destaque na erradicação do analfabetismo e no estímulo à leitura”¹. Nada mais claro então que esse papel deve ser assumido pela biblioteca escolar.

É lugar comum dizer da importância da educação, no sentido de instrução formal, para o processo de desenvolvimento e inclusão social. E é evidente o papel da leitura no processo educativo. É a ferramenta de apreensão dos conhecimentos sobre o mundo. A leitura é o meio pelo qual aprendemos. Paulo Freire fala da leitura do mundo precedendo a leitura da palavra escrita. Vemos em Paulo Freire e outros autores que refletem sobre o ato de ler que não existe apenas uma forma de leitura, e sim múltiplas leituras. A leitura dos textos escritos, ou gravados, em suportes é só uma delas. A escrita é uma forma de preservar e transmitir conhecimentos garantindo sua permanência no tempo. A escola é o espaço onde a competência de leitura é desenvolvida e a biblioteca escolar é o lugar onde o aprendiz vai entrar em contado com a pluralidade de vozes das narrativas humanas.

Então o trabalho do bibliotecário na escola é subsidiar as necessidades literárias dos alunos. Mais que isso, é instigar-lhes o desejo de ler. A biblioteca escolar é, ou deveria ser, um lugar atrativo capaz de oferecer aos leitores conforto, diversidade, inovação. Além de ter um acervo rico, a biblioteca escolar precisa ter mecanismos, atividades que atraiam os leitores para esse acervo.  A cada leitor seu livro, a cada livro seu leitor.

É aqui que entra o que chamo de utopia da simplicidade. Porque não é necessário ao bibliotecário escolar o domínio das “complexas técnicas de gestão”, das ferramentas de organização da informação, das últimas novidades tecnológicas. Quer dizer, ele até precisa disso, mas o mais importante é a capacidade de se comunicar com um público diferenciado. Que de certa forma está ávido por novidades. Mas que é volátil e se cansa facilmente de coisas desinteressantes.

Convivo com uma “bibliotecária escolar”, somos casados, e o que ela me relata é como as atividades mais simples são as que têm mais efeitos. Sempre a vejo lendo literatura infantil, indo a livrarias, procurando conhecer o produto que vai oferecer aos seus leitores. Ela me fala que a biblioteca precisa se comunicar com os alunos. Às vezes uma mudança na decoração, uma ação para chamar a atenção sobre determinado produto atiçam a curiosidade dos leitores. Então ela lança de mão de pequenos artifícios como redecorar o globo que ia ser descartado com figuras e letras; utilizar uma sacola enfeitada, que veio com livros, para criar uma curiosa brincadeira em que papéis com trechos de livros são depositados ali; e o aluno retira o papel e sai em busca do livro citado. São pequenas coisas que dialogam com o leitor, que tornam a biblioteca um lugar mais agradável.

Chamo de utopia da simplicidade, mas reconheço que não é fácil fazer esse trabalho. É simples, porque não é necessário reinventar a roda. Basta aproveitar a curiosidade inerente aos leitores iniciantes, ávidos para mostrar sua capacidade de leitura.

¹ O livro de Edson Nery está referenciado adiante:

FONSECA, Edson Nery. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 2007. 152 p.

O trecho citado está na página 95, e é a fala de um bibliotecário britânico.



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