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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Globalização: verdades e mentiras


O que entendemos por globalização? Que atividades humanas estão realmente globalizadas?

Se voltarmos no tempo até os séculos XV e XVI perceberemos que alguns poucos países europeus lançavam-se à exploração de vastas regiões, formando um ciclo de espoliação de recursos naturais de continentes inteiros como a América e a África, seguindo-se a gradual destruição de culturas locais em favor da cultura dominante. O que mudou desde essa época?

Tal processo foi substituído por uma política internacional dominada por um pequeno grupo de países desenvolvidos, leia-se E.U.A., U.E. e Japão, que continua explorando e suplantando culturas inteiras de forma muito parecida com a exploração dos séculos XV, XVI, XVII...

Assim, é verdadeiro afirmar que alguns países europeus e mais recentemente os E.U.A. se mostram, historicamente, muito competentes na apropriação de riquezas e no controle político-cultural ao redor do globo, independentemente das distâncias. Aberração que há séculos atrás era possibilitada pelas caravelas e canhões de chumbo e que hoje é possibilitada pelas redes de comunicação global e pela indústria de produção cultural em massa. Desta maneira, os modelos de exploração mundial sempre foram, e permanecem, eficientemente globalizados.

Então, o que torna nossa época particular?

A ficção sempre forneceu fantásticos modelos para o futuro, porém a realidade supera qualquer previsão na linha do livro “1984” de George Orwell uma vez que, de modo mais simples, intangível e eficiente estamos, enquanto país da periferia mundial, mesmo com ares de emergente, dominados e cruelmente dependentes dos centros de influência.

Nesta realidade terrível que perfila-se diante de nossos olhos, nos damos por felizes quando as “incontroláveis forças de mercado”, que têm “personalidade e vontade própria”, estão momentaneamente saciadas, tal como um vulcão adormecido ao qual se fazem oferendas em troca de paz.

Compramos bens que não possuem valor real, mas sim um valor que nos acostumamos a pagar para termos algo que acreditamos precisar.

Atualmente, nota-se o esvaziamento da discussão acerca deste processo de empobrecimento generalizado do ser humano, mesmo que alguns indicadores digam o contrário. 
 
Não podemos negar que a globalização é restrita a alguns setores de atividade e que seus fluxos informacional e de capitais transitam por vias restritas e, na maioria das vezes, de mão única. Salvo no caso das informações destinadas ao consumo das massas, as quais estão à disposição, mediante pagamento é claro, em diversos meios e formatos.

Devemos lembrar que a ausência de crítica não é um problema somente dos países dominados pelos centros de poder mundial, no próprio E.U.A., por exemplo, tal fenômeno se reproduz internamente.

Por vezes, acreditamos que acesso à informação é a redenção de nossos problemas. Isto é um grande equívoco, uma vez que, sem o acesso às formas de geração e difusão da informação não se detém realmente o poder, tal equívoco reproduz-se tanto com relação aos indivíduos quanto com relação aos Estados, que injetam grandes quantidades de dinheiro em projetos de informação pouco eficazes e nada autônomos.

Diante deste quadro, o planeta parece perdido. A quem caberia estabelecer a “ordem” e fazer fluir de maneira justa os recursos financeiros?

Tal tarefa seria dos Estados Nacionais, que hoje encontram-se subservientes ao capital internacional. Compram o discurso neoliberal, a um alto preço, que só é bom para os países dominantes, educam para a flexibilização dos mecanismos de controle de mercado, que deve estar aberto às multinacionais, enquanto que os irradiadores dessa doutrina cercam seus mercados de subsídios e protecionismos de toda espécie.

Porém, nem tudo está perdido, restariam ainda algumas saídas, que não seriam as eleições nacionais, para a solução de nossos problemas.
A solução pode vir de um processo contínuo de educação que priorize as vocações de cada país e promova a inclusão de seus cidadãos em um mundo de oportunidades reais, justas e verdadeiramente globalizadas.

Também podemos esperar que aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza resolvam reclamar, porém, de forma violenta, o que lhes é devido ou, em último caso, que o mundo acabe em fogo, conforme a obviamente comprometida “teoria do aquecimento global antropogênico”. 


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Crédito

Num mundo cada vez mais materialista, falar de crédito logo remete a questões financeiras. Afinal, o nossso "bendito" cartão de crédito é passaporte para o desejo saciado na sociedade de consumo atual. Por outro lado, crédito pode ser entendido como sinômico de confiança. Tal qual quando selecionamos informação tendo como referência a confiabilidade da origem da fonte. Confiança, crédito! Merece crédito o modelo de democracia representativa em que vivemos? Toda vez que vejo um carro de som bradando palavras de ordem, ao contrário, sou tomado de um profundo descrédito. As "recentes" denúncias de corrupção no país, a falta de credibilidade das insitituições corroboram e aumentam o rombo em nossas almas. Por ironia o mundo funciona atualmente em função da credibilidade, sobretudo do ponto de vista econômico. Acredito que você irá me pagar, então os juros são menores, se não acredito... Em que acreditar? Nas instituições? No governo? No mercado? Em nós mesmos? Evitando colocar a discussão numa dimensão metafísica, penso que o ser humano em suas possibilidades e limitações é quem pode reverter este quadro. Podemos inspirar confiança (ou não) nas pessoas através da nossa postura, dos nossos valores. Talvez a volta do vis-à-vis, do olho no olho, da conversa...
Enfim, precisamos de novos modelos institucionais, representativos e associativos. Precisamos urgentemente de voltar a acreditar.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O ativismo digital e o peticaopublica.com.br

O mal do século XXI parece ser a informação. Deriva-se do mal do século anterior, a solidão (“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão”, disse Renato Russo). No século passado experimentamos a (r)evolução da técnica em níveis nunca dantes alcançados. Mas ao mesmo tempo vivenciamos a solidão em meio a multidão, o blasé elevado à enésima potência. Com tantas mudanças, com tanta evolução técnica, nos isolamos em nosso pequeno universo umbilical. Atualmente continuamos solitários, mas naturalizamos a solidão e nos cercamos de ferramentas que nos possibilitam viver sozinhos, sem sofrimento, sem considerar isso um mal. Passamos a fase de ver a solidão como algo ruim. Agora achamos bom não ter laços reais com outras pessoas, assim sobra mais tempo para “tuitar”, “facebookear”, “blogar”, “googlar”, etc. Ao mesmo tempo vivemos numa época de intensas relações virtuais, de facilidade de criação de conteúdos informacionais. O volume destes conteúdos ultrapassa em muito a capacidade de processamento de nossos primitivos e limitados cérebros. Por isso, afirmo lá em cima, que a informação parece ser o mal do nosso século. O excesso dela, a facilidade com que é criada e distribuida. (Não vou entrar aqui no mérito do conceito de informação. Criamos mensagem ou informação? Ou a mensagem só se torna informação ao ser recebida e interpretada? Fica para outras discussões, mais sérias, mais acadêmicas e mais chatas).

Mesmo com esse auto-exílio (moramos no interior de nosso interior, Vander Lee!) temos desejos e demandas comuns. Do isolamento voluntário a técnica nos permite organizar manifestações e reivindicar nossos direitos. Mesmo isolados fisicamente, estamos cada vez mais próximos virtualmente. A lógica espaço-temporal foi entortada pelas tecnologias da informação.

E aqui entramos no nosso assunto: o ativismo digital. Mais específico ainda: o uso das tecnologias como ferramentas de reivindicação de direitos. E vamos falar especialmente de uma ferramenta: o peticaopublica.com.br. Está lá na apresentação do site: “O PeticaoPublica.com.br, fornece alojamento online gratuito para abaixo-assinados (petições públicas). O mesmo pretende constituir um serviço público de qualidade a todos os cidadãos brasileiros”. Qualquer pessoa pode criar um abaixo-assinado e divulga-lo através da Internet. Há, no peticaopublica.com.br, abaixo-assinados reivindicando uma infinidade de coisas: mesas de totó para centros acadêmicos, liberdade para pessoas presas, impeachment de políticos, mudanças na legislação, o fim do voto obrigatório, construção de creches, hospitais, etc. Certamente uma parte considerável das reivindicações feitas no site são referentes a questões pontuais: algumas até parecem brincadeira. Mas existem reivindicações abrangentes, de interesse de toda sociedade, ou de grande parte dela.

O ativismo político, turbinado pelas tecnologias da informação e da comunicação, permite que possamos cobrar de forma ampla a observância de direitos fundamentais, garantidos pela Constituição. Embora seja menos eficiente, no meu ponto de vista, que a manifestação concreta, a manifestação virtual tem a vantagem de alcançar mais pessoas e cobrir uma área geográfica muito maior (teoricamente pode ser o mundo inteiro).

O que me motivou a escrever essas linhas foi um projeto de iniciativa popular que propõe alterações na Lei 9.503/97, que institui o Código de Trânsito Brasileiro. A legislação brasileira permite que o cidadão possa apresentar projetos de lei à Câmara dos Deputados, diretamente, sem a intermediação de um parlamentar (ver Art. 252 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados). O Art. 14 da Constituição Brasileira diz que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: plebiscito, referendo e iniciativa popular”. No Art. 61 estão definidos os atores que podem apresentar projetos de leis: “a iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição”; e também estão colocadas as regras para a apresentação de projetos de lei de iniciativa popular (no § 2º): “A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles”.

É aqui que a tecnologia faz a diferença no ativismo. O alcance destas iniciativas é muito maior com o uso das ferramentas de comunicação atuais. O abaixo-assinado que me motivou a escrever este texto propõe, basicamente, a alteração das penas (aumento da rigidez) para quem dirige embriagado. Se fosse utilizar meios convencionais, anteriores à rede seria mais difícil para o autor desta petição conseguir a quantidade de assinaturas necessárias para que seu projeto fosse analisado pela Câmara dos Deputados. Possivelmente a proposta nem existiria. Porque seria necessário dispor de tempo e dinheiro para levá-la adiante. Com o uso da rede e das tecnologias, essa coleta de assinaturas é um trabalho rápido e barato. Tal qual a disseminação da informação sobre o projeto.

Através das tecnologias da informação e da comunicação, o cidadão exerce seu direito constitucional de manifestação e participação. Neste sentido o peticaopublica.com.br cumpre seu objetivo, implícito lá em sua apresentação, de ser uma ferramenta de exercício da cidadania. Finalizo esclarecendo que esta é minha forma de ver o serviço oferecido pelo site. Considero-o antes de tudo uma ferramenta importante de exercício da cidadania, um meio de reivindicar direitos. E, porque não, um eficiente serviço de informação.


sábado, 22 de outubro de 2011

O fim do mundo

O mundo não acabou, ainda. Temos uma nova previsão para 21/12/2012. O mundo acabaria e tudo o que fizermos até lá, seria em vão. Deveríamos parar de nos precupar com as desigualdades sociais, com a crise econômica, com a copa do mundo no Brasil...

A grande questão é se ainda conseguimos nos preocupar com alguma coisa. Tudo nos absorve, nos consome e nos anestesia. Isso pode parecer demasiado pessimista ou como diria Nietzsche: "demasiado humano". Profecias sobre o fim do mundo são recorrentes na história da humanidade. Talvez não exista nada de novo, mas a novidade insiste em aparecer. Desta vez sobre a forma de um espaço de contradições extraordinárias, ainda que ordinárias.

Buscando a utopia das coisas "sérias", o sonho, o ideal. Posicionando a favor da erradicação do analfabetismo, da corrupção. Retomando algumas bandeiras e queimando outras talvez. Sobretudo, como Bibliotecários, utópicos; Bibliotecários utópicos até que o mundo se acabe ou que possamos transformá-lo!