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Utopia

Está lá no Aurélio no verbete Utopia: “S.f. 1. País imaginário, criação de Thomas Morus (1480-1535), escritor inglês, onde um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz. 2. P. ext. Descrição ou representação de qualquer lugar ou situação ideais onde vigorem normas e/ou instituições políticas altamente aperfeiçoadas. 3. P. ext. projeto irrealizável; quimera; fantasia”.

O primeiro uso do termo utopia, e também seu primeiro sentido, é ficcional. A ilha imaginada por Morus é um lugar ideal. Daí o uso do termo utopia para identificar um ideal a ser atingido. Por outro lado, esse ideal se tornou também distante da realidade, portanto inalcançável. A terceira definição do termo no dicionário talvez seja a mais utilizada atualmente. Utopia como quimera, fantasia. Mas acreditamos que utopia pode ser tanto algo irrealizável, quanto o ideal a ser alcançado. Depende do ponto de vista. Assim, a segunda definição do termo no dicionário nos cai melhor. Somos utópicos. Leituras apressadas na web nos dizem que o utopismo “consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo absurdamente otimista de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem” (WIKIPÉDIA).

Menos acadêmicos, menos eruditos e menos pudicos recorremos a uma citação "exótica" (e erótica). Em uma “Revista Playboy” perdida da década de 1990 há uma reportagem sobre Carlos Menem, então presidente da Argentina, que disse, em discurso durante uma visita do então presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, que “a utopia é a realidade dos sonhos”. Acreditamos que essa é uma boa síntese para o termo.

E por que bibliotecários utópicos? Porque acreditamos, de maneira quase piegas, na possibilidade de transformar sonhos em realidade. Porque acreditamos que a biblioteconomia é uma ferramenta de transformação social. E transformação, inclusão, erradicação são termos utópicos em uma sociedade tão desigual como a nossa. Utópicos porque ainda acreditamos nos princípios básicos da biblioteconomia como complementação dos processos educacionais, ou seja, acreditamos na biblioteca como o principal suporte para o desenvolvimento da leitura. Leitura que na era da tecnologia, da gestão, do conhecimento anda tão escanteada em nosso discurso. Utópicos porque advogamos o acesso universal e democrático aos bens culturais, sociais e informacionais. Utópicos porque queremos a erradicação do analfabetismo, a criação de uma biblioteca em cada município brasileiro, o acesso a livros e outros materiais informacionais de modo universal. Utópicos porque vemos tudo isso como realidade dos sonhos, mas também porque deslumbramos o caminho para atingir o inatingível que transforma esse desejo em utopia.